O Canal de Marapendi, na Zona Oeste do Rio, tem sido crescentemente utilizado como uma importante via de transporte aquaviário alternativo. Entretanto, as consequências desta solução são processos erosivos que podem se agravar ao longo dos anos.
As ondas são o principal agente modelador das costas e margens em virtude do seu grande potencial no transporte de sedimentos. Deste modo, as condições sedimentológicas dos ambientes lagunares obedecem aos critérios naturais de baixa energia hidrodinâmica associada à ausência de ondas. Entretanto, a perturbação da superfície livre devido à locomoção de embarcações altera a condição natural criando ondas que passam a interferir no equilíbrio.
Nas condições particulares do canal de Marapendi, sua caracterização estreita faz com que as ondas geradas tenham pouca dissipação de energia. Ao arrebentarem nas margens, aumentam ainda mais seu poder erosivo quando comparado a canais mais largos ou superfícies livres com maiores extensões.
A ação destas ondas suspende os sedimentos mais finos, que acabam sendo transportados e depositados nas partes mais profundas, em regiões de menor energia hidrodinâmica. Os sedimentos das margens migram para o centro do canal provocando processos de erosão e assoreamento.
Os efeitos esperados da erosão compreendem o solapamento progressivo das margens e a piora das condições de navegabilidade. Considerando que o canal de Marapendi é ladeado por vegetação, ciclovia, casas e pista de rolamento, entende-se que a erosão causada pela navegação pode trazer sérios problemas estruturais. Já são observados processos erosivos. Em alguns pontos, a erosão das margens está prestes a atingir a pavimentação da ciclovia. Podem ser observadas trincas e início de solapamento no pavimento da ciclovia. Pode-se reparar também um desnivelamento do pavimento e tendência de tombamento de algumas árvores.
Em relação à vegetação marginal, já são observadas sucessivas quedas de árvores que obstruem o canal e precisam ser removidas. Tal fato contribui ainda mais para o processo erosivo, visto que as raízes das árvores constituem um elemento agregador do solo, responsável pela fixação deste nas margens do canal.
Considerando a ocupação já consolidada das margens do sistema lagunar da Barra da Tijuca, restam apenas as ações mitigatórias do processo erosivo, levando em consideração os recursos locais disponíveis, e a sua adaptabilidade as condições naturais. Estas ações são constituídas por soluções tradicionais ou naturais. As primeiras englobam estruturas construídas com enrocamento ou concreto, que possuem resistência significativa às ações hidráulicas e intempéries. Entretanto, além do impacto ambiental mais significativo, compreendem opções menos viáveis do ponto de vista econômico se comparadas às soluções naturais constituídas pelo revestimento das margens por vegetação que objetiva atenuar a energia das ondas.
Independentemente da solução a ser tomada, uma ação para conter o processo erosivo ao longo do canal de Marapendi se faz necessária de curto a médio prazo. O gasto para superar o problema atual pode ser infinitamente inferior do que os gastos futuros e transtornos sociais.
*Miguel Fernández é presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental do Rio de Janeiro e Renato Castiglia Feitosa é conselheiro da ABES-Rio
Confira o artigo na íntegra publicado no Jornal O Dia: https://bit.ly/3z18kWD