Desde 2016 o Dia Internacional das Mulheres e Meninas nas Ciências é comemorado em 11 de fevereiro e para celebrar esta data no ano 2023, a ABES-Rio conversou com Camily Pereira dos Santos e Laura Nedel Drebes, criadoras do absorvente ecológico e acessível, Sustain Pads.
Camily e Laura são duas jovens cientistas do Instituto Federal do Rio Grande do Sul – Campus Osório, que em 2022 representaram o Brasil na etapa Internacional do Prêmio Jovem da Água de Estocolmo e foram premiadas com a Excelência do SJWP (Stockholm Júnior Water Prize). O projeto que trouxe o prêmio para as cientistas foi o Sustain Pads, absorvente ecológico e acessível, substituindo materiais como o algodão pelas fibras do pseudocaule da bananeira.
Em 2019, Laura começou a desenvolver projetos de pesquisa e descobriu o amor pelo poder transformador da Ciência. Desde então, ressignificou a forma em que compreende as coisas. Em 2021 recebeu o Prêmio de Incentivo ao Empreendedorismo Científico. Nos anos de 2021 e 2022 recebeu o Prêmio Jovem Talento Científico Gaúcho e foi bolsista do Programa de Iniciação Científica Júnior do CNPq durante 3 anos.
Já Camily, desde o ensino fundamental é apaixonada por ciência e competindo em olimpíadas de matemática foi medalhista 11 vezes, também é bolsista de Iniciação Científica do CNPq já há 7 anos. A ideia de desenvolver o Sustain Pads surgiu durante a pandemia, ao conversar com sua mãe sobre a questão dos absorventes ecológicos e a preocupação em como as ações da jovem estavam afetando o meio ambiente.
Porém o que fez Camily começar a desenvolver os absorventes ecológicos e acessíveis foi descobrir que a pobreza menstrual era uma questão próxima da família dela.
“Acabei descobrindo que minha mãe não teve acesso a absorventes quando era mais jovem. Então eu estava procurando uma alternativa mais ecológica e descobri que minha mãe nem sequer tinha essa opção. Essa foi a primeira vez que me deparei com o problema da pobreza menstrual, que é essa falta de acesso a materiais básicos de higiene”, comentou Camily.
O Instituto Federal do Rio Grande do Sul não tinha um laboratório adequado para a realização do projeto, porém a professora e orientadora Flávia Twardowski conseguiu um laboratório em 2021 e fez as duas jovens cientistas se conhecerem.
“A gente não tinha até então um laboratório na nossa escola, era uma sala normal com alguns equipamentos laboratoriais. A gente só foi de fato ter esse laboratório no ano de 2021, quando eu conheci a Camily”, explicou Laura.
Mesmo com o projeto iniciado e o apoio da professora Flávia e da instituição, as duas cientistas tiveram que superar diversos desafios para desenvolver o Sustain Pads e chegar ao resultado esperado, como a pandemia e a falta de ferramentas necessárias.
Como estávamos em uma época de pandemia, não podíamos acessar os laboratórios da UFRGS, e a gente precisava de uma prensa para extrair as fibras do pseudocaule da bananeira, só que a gente não tinha. Pensamos fora da caixa e usamos a nossa imaginação e a gente achou uma alternativa para isso, que foi literalmente atropelar com o carro as tiras do pseudocaule da bananeira para fazer essa extração”, contou Laura.
Além da criatividade para superar barreiras como a falta da prensa, foi preciso tornar a ciência coletiva para o projeto avançar. O círculo familiar, de amizade, a orientadora Flávia e a Instituição estavam mobilizados para que os Sustain Pads virassem uma realidade. Por não morar em Osório, Laura precisou do apoio dos familiares e amigos, para chegar ao campus todos os dias em tempos de pandemia. Camily reforçou a importância da professora Flávia sempre ter corrido atrás para tudo acontecer, junto com os familiares e a bolsa do CNPq.
Da mesma forma quando iniciaram o projeto, Camily e Laura tiveram outras cientistas como inspiração para a pesquisa, depois do Sustain Pads receber prêmios internacionais e a dupla ter o devido reconhecimento pelo feito, outras meninas já começam a se inspirar nas jovens cientistas para também seguirem os seus sonhos.
“É diferente quando você vê meninas da sua cidade, sua região, recebendo um reconhecimento grande, então é muito legal ver outras meninas se inspirando na gente para seguirem os seus sonhos. Eu acredito que o exemplo move”, disse Camily.
“Eu fico muito feliz quando as meninas vem conversar com a gente dizendo que nós inspiramos elas, isso me emociona demais. Eu consigo me ver, assim como hoje em dia continuo me inspirando em outras mulheres. Uma a outra vai motivando, o exemplo move”, afirmou Laura.
Agora Camily e Laura, após terminarem o processo da patente do projeto, procuram uma empresa que abrace a causa para transformar o Sustain Pads em uma tecnologia acessível e social para as mulheres. A ciência pode ser uma ferramenta utilizada em favor da sociedade.